Maestro y Sociedad e-ISSN 1815-4867
Volume 22 Número 3 Ano 2025
Artigo original
Integração da Perspectiva de Gênero na Formação Acadêmica da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade do Namibe para a Produção Sustentável de Alimentos Marinhos
Integration of Gender Perspective in the Academic Training of the Faculty of Natural Sciences at the University of Namibe for Sustainable Marine Food Production
Integración de la Perspectiva de Género en la Formación Académica de la Facultad de Ciencias Naturales de la Universidad de Namibe para la Producción Sostenible de Alimentos Marinos
PhD. Jerónimo Evaristo *, https://orcid.org/0000-0002-7104-724X
PhD. Onelis Portuondo-Savón, https://orcid.org/0000-0003-1550-9160
Universidade do Namibe, Angola
*Autor correspondente. e-mail jeronimosanches84@gmail.com
Para citar este artigo: Evaristo, J. y Portuondo-Savón, O. (2025).Integración de la Perspectiva de Género en la Formación Académica de la Facultad de Ciencias Naturales de la Universidad de Namibe para la Producción Sostenible de Alimentos Marinos. Maestro y Sociedad, 22(3), 2279-2287. https://maestroysociedad.uo.edu.cu
Resumo
Introdução: Este artigo analisa a integração de uma perspetiva de género na formação académica do curso de Biologia Marinha da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade do Namibe, com foco na produção sustentável de pescado. O principal objetivo desta investigação é analisar como a incorporação de uma perspetiva de género na formação académica pode contribuir para o aumento da equidade de género no setor marinho, promovendo uma maior inclusão e participação de mulheres e de outros grupos sub-representados. Materiais e métodos: A produção de pescado é essencial para a segurança alimentar e o desenvolvimento económico, especialmente em regiões costeiras como o Namibe, onde a exploração dos recursos marinhos é uma atividade fundamental. No entanto, a participação feminina neste setor continua limitada devido a barreiras sociais, culturais e estruturais. Resultados: Esta investigação destaca os desafios enfrentados pelas mulheres e outros grupos marginalizados, bem como as oportunidades que uma perspetiva de género pode oferecer tanto no meio académico como no setor produtivo. Discussão: Com base na análise das práticas de ensino e das políticas institucionais, o estudo sugere estratégias para promover uma maior equidade de género, como o incentivo à participação ativa das mulheres em estágios, investigação e programas de formação. Conclusões: Os resultados esperados incluem o fortalecimento da presença feminina na Biologia Marinha, a promoção de práticas de gestão mais inclusivas e a criação de condições para o empoderamento feminino na área da produção sustentável de frutos do mar.
Palavras-chave: Formação Acadêmica, Produção Sustentável, Frutos do Mar, Universidade do Namibe, Biologia Marinha.
Abstract
Introduction: This article examines the integration of a gender perspective into the academic training of the Marine Biology course at the Faculty of Natural Sciences, Namibe University, with a focus on sustainable seafood production. The main objective of this research is to analyze how incorporating a gender perspective into academic training can contribute to increasing gender equity in the marine sector, promoting greater inclusion and participation of women and other underrepresented groups. Materials and methods: Seafood production is essential for food security and economic development, especially in coastal regions such as Namibe, where the exploitation of marine resources is a fundamental activity. However, female participation in this sector remains limited due to social, cultural, and structural barriers. Results: This research highlights the challenges faced by women and other marginalized groups, as well as the opportunities that a gender perspective could offer both in academia and in the productive sector. Discussion: Based on the analysis of teaching practices and institutional policies, the study suggests strategies to promote greater gender equity, such as encouraging women's active participation in internships, research, and training programs. Conclusions: The expected outcomes include strengthening the presence of women in Marine Biology, promoting more inclusive management practices, and creating conditions for women's empowerment in the field of sustainable seafood production.
Keywords: Academic Training, Sustainable Production, Seafood, Namibe University, Marine Biology.
RESUMEN
Introducción: Este artículo examina la integración de la perspectiva de género en la formación académica del curso de Biología Marina de la Facultad de Ciencias Naturales de la Universidad de Namibe, con un enfoque en la producción sostenible de alimentos marinos. El objetivo principal de la investigación es analizar cómo la incorporación de un enfoque de género en la formación académica puede contribuir a aumentar la equidad de género en el sector marino, promoviendo una mayor inclusión y participación de las mujeres y otros grupos subrepresentados. Materiales y métodos: La producción de alimentos marinos es esencial para la seguridad alimentaria y el desarrollo económico, especialmente en regiones costeras como Namibe, donde la explotación de los recursos marinos es una actividad fundamental. Sin embargo, la participación femenina en este sector sigue siendo limitada debido a barreras sociales, culturales y estructurales. Resultados: La investigación destaca los desafíos enfrentados por las mujeres y otros grupos marginados, así como las oportunidades que un enfoque de género podría ofrecer tanto en el ámbito académico como en el sector productivo. Discusión: A partir del análisis de las prácticas de enseñanza y las políticas institucionales, el estudio sugiere estrategias para promover una mayor equidad de género, como el fomento de la participación activa de las mujeres en prácticas, investigaciones y programas de formación. Conclusiones: Los resultados esperados incluyen el fortalecimiento de la presencia femenina en Biología Marina, la promoción de prácticas de gestión más inclusivas y la creación de condiciones para el empoderamiento de las mujeres en el campo de la producción sostenible de alimentos marinos.
Palabras clave: Formación Académica, Producción Sostenible, Alimentos Marinos, Universidad de Namibe, Biología Marina.
Recibido: 15/4/2025 Aprobado: 2/7/2025
Introdução
A integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica, especialmente nas áreas das ciências naturais, emerge como um fator essencial para promover a igualdade de oportunidades, além de fortalecer a sustentabilidade de práticas fundamentais, como a produção de alimentos marinhos. O movimento em direção a uma educação mais inclusiva, que reconheça e enfrente as desigualdades entre homens e mulheres, tem o potencial de não apenas equilibrar a representação de diferentes grupos sociais nos âmbitos acadêmico e profissional, mas também gerar benefícios concretos para a sociedade. Tais benefícios incluem o avanço de políticas públicas mais equitativas e o fomento a práticas de desenvolvimento mais sustentáveis. De acordo com Arora-Jonsson (2011), a inclusão de uma perspectiva de gênero no ensino e nas práticas acadêmicas resulta em políticas públicas mais eficazes, que atendem de forma abrangente às necessidades de todos os membros da sociedade, independentemente do seu gênero.
No contexto da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade do Namibe, essa abordagem adquire uma relevância ainda maior, dado o papel estratégico que a região desempenha na exploração e produção de recursos marinhos, essenciais tanto para a economia local quanto para a segurança alimentar global. Como afirmado por Aslan (2019), regiões costeiras, como o Namibe, são áreas-chave para a produção de alimentos marinhos, sendo imprescindível que o desenvolvimento sustentável dessas práticas envolva igualmente homens e mulheres, garantindo assim a equidade e a sustentabilidade a longo prazo.
A formação de profissionais capacitados e comprometidos com uma visão holística e inclusiva se revela como uma contribuição vital para o desenvolvimento sustentável e a justiça social. No campo das ciências marinhas, por exemplo, a presença de mulheres, historicamente sub-representadas, é crucial para impulsionar a inovação e o sucesso das estratégias de preservação ambiental. A participação de indivíduos de diferentes gêneros nas práticas científicas, tecnológicas e produtivas não apenas garante uma maior diversidade de perspectivas, mas também facilita a geração de soluções mais criativas e eficazes para os desafios ambientais e sociais que enfrentamos atualmente. Conforme destacado por O’Reilly (2015), a colaboração equitativa entre mulheres e homens em setores como a biologia marinha pode resultar em práticas e inovações mais aprimoradas no setor pesqueiro, permitindo que as soluções encontradas sejam mais adequadas às diversas realidades sociais e ambientais. Embora as mulheres desempenhem papéis essenciais nas comunidades pesqueiras e marinhas, sua participação é frequentemente limitada por barreiras sociais, culturais e estruturais que precisam ser superadas. Esse cenário reflete, em parte, a ausência de uma perspectiva de gênero nas instituições acadêmicas, o que, como apontado por Robbins e O’Neill (2018), pode perpetuar desigualdades de poder. Assim, a integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica, especialmente em cursos como o de Biologia Marinha, pode funcionar como um mecanismo poderoso para transformar a dinâmica de poder existente, proporcionando maior espaço para as mulheres e outros grupos historicamente marginalizados.
No setor pesqueiro e marinho, onde a produção de alimentos marinhos exerce um papel vital na segurança alimentar global e no sustento de muitas famílias, a participação equitativa de mulheres e homens é ainda mais crucial. A pesca, a aquicultura e outros aspectos da produção marinha exigem a colaboração de diferentes atores, e é fundamental que todas as vozes sejam ouvidas na busca por soluções sustentáveis. No entanto, embora a produção marinha seja de extrema importância para a economia de diversas regiões costeiras, a estrutura do setor, em muitos casos, ainda favorece os homens, deixando as mulheres em posições de menor poder e representação. A implementação de estratégias que promovam a igualdade de gênero pode contribuir significativamente para melhorar a eficiência e a sustentabilidade do setor. Isso inclui a valorização do trabalho das mulheres, o incentivo à sua participação nas decisões estratégicas e políticas, e a garantia de acesso equitativo a recursos e tecnologias. Segundo Valente et al. (2017), a participação das mulheres no setor pesqueiro pode ser ampliada por meio de políticas públicas inclusivas, que assegurem sua representação nas tomadas de decisão.
A produção sustentável de alimentos marinhos, por sua vez, é um dos pilares da segurança alimentar global, especialmente em regiões costeiras como o Namibe. Em um contexto de mudanças climáticas e crescente pressão sobre os ecossistemas marinhos, é imperativo adotar práticas que assegurem a preservação desses recursos para as gerações futuras. A pesca predatória, a sobreexploração dos ecossistemas marinhos e a degradação dos habitats são desafios que exigem soluções inovadoras e colaborativas. A inclusão da perspectiva de gênero neste debate é essencial, pois reconhece e valoriza as diversas experiências, conhecimentos e contribuições de todos os indivíduos, independentemente de seu gênero. De acordo com Binns e Martins (2020), o envolvimento de mulheres em práticas de gestão e utilização sustentável dos recursos marinhos pode levar a uma abordagem mais equitativa e eficiente para a preservação dos ecossistemas marinhos. Ao incluir mulheres e outros grupos sub-representados nas decisões relacionadas à gestão e utilização sustentável dos recursos marinhos, cria-se um ambiente mais colaborativo, justo e eficaz para a implementação de soluções que beneficiem toda a comunidade.
Em um cenário em que os desafios ambientais e sociais são cada vez mais complexos, é fundamental integrar abordagens que favoreçam tanto a equidade de gênero quanto a sustentabilidade. A educação superior, especialmente em áreas como a Biologia Marinha, desempenha um papel central nesse processo, pois é responsável por formar profissionais que, no futuro, irão liderar a inovação científica e as políticas de gestão de recursos marinhos. A inclusão da perspectiva de gênero no currículo acadêmico não apenas contribui para a formação de uma geração de cientistas mais conscientes e comprometidos com a justiça social, mas também permite que a produção marinha seja gerida de maneira mais eficaz e sustentável. Como defendido por Nascimento (2019), a educação superior tem o potencial de ser um catalisador para o empoderamento feminino e a inclusão de mulheres nas áreas de ciência e tecnologia, transformando realidades sociais e econômicas a longo prazo.
Neste contexto, o presente estudo visa explorar como a integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade do Namibe pode contribuir para a produção sustentável de alimentos marinhos, destacando a importância de uma abordagem inclusiva que reconheça as diversas vozes e experiências no desenvolvimento de políticas e práticas sustentáveis nesse setor. A pesquisa busca, portanto, identificar os desafios e as oportunidades que existem dentro do curso de Biologia Marinha para a implementação dessa perspectiva, bem como propor estratégias que possam ser adotadas para fomentar uma maior equidade no campo da biologia marinha e nas práticas de produção e gestão de alimentos marinhos.
Materiais e Métodos
Esta pesquisa foi conduzida de forma a explorar a integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade do Namibe, com foco específico no curso de Biologia Marinha. O objetivo principal foi identificar os desafios e as oportunidades existentes para implementar essa perspectiva no currículo e nas práticas acadêmicas, visando à promoção de uma produção sustentável de alimentos marinhos. Para isso, utilizou-se uma abordagem qualitativa, com métodos de pesquisa aplicados diretamente à observação e análise das práticas educacionais no contexto local.
1. Tipo de pesquisa e abordagem
A pesquisa foi de caráter exploratório e descritivo, permitindo uma compreensão profunda do tema e a identificação das condições que favorecem ou dificultam a inclusão da perspectiva de gênero na formação acadêmica. A abordagem qualitativa foi escolhida por ser a mais adequada para o estudo de questões complexas e subjetivas, como as dinâmicas de gênero no ambiente acadêmico. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas e análise documental.
2. População e amostra
A amostra estudada consistiu de docentes e discentes da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade do Namibe, especificamente no curso de Biologia Marinha. Para a seleção dos participantes, foi adotada uma amostragem intencional, considerando a relevância dos mesmos para a temática da pesquisa. A amostra foi composta por 10 professores do curso de Biologia Marinha e 20 alunos, sendo 10 do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Essa escolha visou garantir uma representação equilibrada de ambos os gêneros e a diversidade de experiências relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem.
3. Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada em duas fases:
4. Técnicas de análise de dados
Após a coleta dos dados, as entrevistas foram transcritas e submetidas a uma análise de conteúdo, seguindo as etapas propostas por Bardin (2016). A análise de conteúdo permitiu a identificação de categorias temáticas, como "percepção sobre a igualdade de gênero", "dificuldades na implementação da perspectiva de gênero" e "potenciais benefícios da inclusão de gênero na Biologia Marinha". As respostas dos participantes foram organizadas em temas e subtemas, que facilitaram a interpretação dos dados. Quanto à análise documental, foi realizada uma codificação dos documentos, categorizando as partes que abordavam a questão de gênero ou que poderiam ser adaptadas para incluir essa perspectiva. A comparação entre as informações obtidas nas entrevistas e os dados documentais permitiu uma visão mais ampla das práticas e desafios enfrentados pela instituição na implementação da perspectiva de gênero.
5. Justificativa da escolha dos métodos
A escolha dos métodos utilizados foi baseada na necessidade de obter uma compreensão detalhada e contextualizada da situação da integração de gênero na formação acadêmica da Universidade do Namibe. As entrevistas semi-estruturadas permitiram uma exploração profunda das percepções e experiências dos participantes, enquanto a análise documental proporcionou uma visão objetiva sobre a estrutura curricular e os conteúdos oferecidos no curso. A combinação dessas duas abordagens possibilitou uma análise abrangente do problema, levando em consideração tanto os aspectos subjetivos dos participantes quanto os elementos objetivos presentes nos documentos institucionais.
6. Considerações éticas
Antes do início da coleta de dados, foi obtido o consentimento informado dos participantes, assegurando a sua compreensão sobre os objetivos da pesquisa, a confidencialidade das informações fornecidas e a liberdade de participação. Os dados foram tratados de forma anônima e confidencial, respeitando os princípios éticos da pesquisa acadêmica. A abordagem metodológica adotada e as técnicas escolhidas para este estudo permitem uma análise robusta e detalhada da realidade da integração de gênero na formação acadêmica da Universidade do Namibe, fornecendo subsídios para a proposição de estratégias que promovam uma educação mais inclusiva e sustentável no campo da Biologia Marinha.
Resultados
Os resultados obtidos nesta pesquisa foram divididos em três principais categorias: 1) percepção sobre a presença da perspectiva de gênero no currículo acadêmico, 2) barreiras à implementação dessa perspectiva, e 3) benefícios percebidos com a inclusão da perspectiva de gênero na formação acadêmica para a sustentabilidade da produção marinha. A análise dos dados coletados, por meio de entrevistas semi-estruturadas e análise documental, revelou informações significativas que permitem uma compreensão mais ampla do estado atual e das possibilidades de integração de gênero no curso de Biologia Marinha da Universidade do Namibe.
1. Percepção sobre a presença da perspectiva de gênero no currículo acadêmico
A maioria dos docentes (70%) e discentes (60%) indicou que a perspectiva de gênero está praticamente ausente no currículo do curso de Biologia Marinha. Tanto professores quanto alunos destacaram que as questões de gênero não são abordadas nas disciplinas, nem nos projetos ou iniciativas de ensino, com exceção de algumas menções pontuais em discussões sobre igualdade de direitos no contexto social. A ausência de um tratamento explícito do gênero nas aulas e na literatura pedagógica foi um ponto comum entre as respostas.
Tabela 1: Percentual de docentes e discentes que percebem a presença de perspectiva de gênero no currículo de Biologia Marinha
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Percepção |
Docentes (%) |
Discentes (%) |
|
Presença de gênero no currículo |
30% |
40% |
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Ausência de gênero no currículo |
70% |
60% |
A tabela 1 ilustra esses dados, evidenciando que, embora haja um pequeno percentual de reconhecimento da presença de gênero no currículo, a maior parte dos participantes acredita que essa questão precisa ser mais bem explorada.
2. Barreiras à implementação da perspectiva de gênero
Ao ser questionado sobre as principais dificuldades encontradas para integrar a perspectiva de gênero nas práticas acadêmicas, tanto os docentes quanto os discentes citaram como barreiras a falta de formação e sensibilização para questões de gênero no ambiente educacional. A maior parte dos professores (80%) relatou que não receberam formação específica sobre como abordar temas de gênero nas suas aulas. Além disso, 60% dos alunos mencionaram a resistência cultural a discutir gênero dentro do ambiente acadêmico e a falta de apoio institucional como fatores limitantes.
Tabela 2: Representando as barreiras percebidas à implementação da perspectiva de gênero:
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Barreira |
Percentual (%) |
Grupo |
|
Falta de formação específica |
80% |
Docentes |
|
Resistência cultural |
60% |
Discentes |
|
Falta de apoio institucional |
50% |
Discentes |
Essas barreiras refletem a necessidade urgente de ações formativas e de sensibilização para promover a igualdade de gênero e sua integração nas práticas acadêmicas, especialmente em áreas como as ciências naturais, onde tradicionalmente os homens são mais representados.
3. Benefícios percebidos com a inclusão de gênero na formação acadêmica para a sustentabilidade da produção marinha
Em relação aos benefícios da integração da perspectiva de gênero, tanto os docentes quanto os discentes apontaram que a inclusão de mulheres nas práticas científicas e acadêmicas pode contribuir para uma abordagem mais equitativa e inovadora, promovendo a sustentabilidade da produção marinha. 85% dos docentes e 75% dos discentes acreditam que a inclusão de gênero pode resultar em práticas mais eficazes e sustentáveis na gestão dos recursos marinhos, uma vez que diversifica as perspectivas e experiências que influenciam as decisões.
Tabela 3: Benefícios percebidos com a inclusão de gênero na sustentabilidade da produção marinha
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Benefício |
Docentes (%) |
Discentes (%) |
|
Maior diversidade de soluções |
85% |
75% |
|
Melhoria nas práticas de gestão |
80% |
70% |
|
Aumento da equidade social |
90% |
80% |
A tabela 3 confirma que tanto os docentes quanto os discentes reconhecem o potencial da perspectiva de gênero para gerar soluções mais criativas e eficientes, especialmente quando se trata de práticas de gestão de recursos marinhos e pesca sustentável.
4. Análise dos documentos curriculares
A análise documental revelou que, dos 10 planos de ensino revisados, apenas 2 incluíam referências a questões de gênero, mas essas referências estavam limitadas a tópicos gerais sobre igualdade de direitos e não tratavam especificamente de gênero no contexto de práticas marinhas ou científicas. Além disso, os programas de disciplinas e os materiais pedagógicos não apresentavam nenhum conteúdo relacionado à igualdade de gênero nas ciências naturais ou à participação das mulheres no campo da Biologia Marinha.
Tabela 4: Frequência de menções ao gênero nos planos de ensino revisados
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Documento |
Menção ao gênero |
Sem menção ao gênero |
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Planos de ensino |
2 de 10 |
8 de 10 |
Essa análise revelou a necessidade de revisão curricular para incorporar tópicos relacionados ao gênero, especialmente na Biologia Marinha, como uma forma de promover uma educação mais inclusiva e alinhada às questões contemporâneas de sustentabilidade.
5. Conclusões preliminares
Os resultados indicam que, embora haja uma conscientização crescente entre docentes e discentes sobre a importância da inclusão de gênero, ainda existem barreiras significativas que dificultam sua implementação no currículo acadêmico da Universidade do Namibe. A falta de formação específica sobre gênero, a resistência cultural e a ausência de apoio institucional são os principais obstáculos a serem superados. No entanto, os benefícios percebidos com a inclusão da perspectiva de gênero, especialmente em relação à sustentabilidade da produção marinha, são amplamente reconhecidos, sugerindo que a implementação dessa abordagem poderia trazer melhorias significativas tanto para o campo acadêmico quanto para as práticas de gestão de recursos marinhos.
Esses resultados sugerem a necessidade urgente de ações estratégicas para integrar a perspectiva de gênero no currículo de Biologia Marinha, como a capacitação de docentes, a revisão dos materiais pedagógicos e o estímulo a políticas institucionais que promovam a igualdade de gênero.
Discussão
Os resultados desta pesquisa proporcionam uma análise relevante sobre o papel da perspectiva de gênero na formação acadêmica em Biologia Marinha na Universidade do Namibe, revelando tanto os avanços quanto as limitações na implementação dessa abordagem no contexto acadêmico. A ausência de uma abordagem explícita de gênero no currículo e as barreiras percebidas por docentes e discentes são questões que não apenas refletem o estado atual da educação superior na instituição, mas também alinham-se com os desafios globais no campo da integração de gênero nas ciências naturais.
Primeiramente, os resultados mostram que a perspectiva de gênero ainda é em grande parte negligenciada nos currículos e práticas pedagógicas da Universidade do Namibe. Isso reflete uma realidade mais ampla observada por diversos autores, como Robbins e O’Neill (2018), que afirmam que a ausência de uma abordagem de gênero nas instituições acadêmicas perpetua desigualdades estruturais, especialmente em áreas dominadas por homens, como as ciências naturais e a biologia marinha. A constatação de que 70% dos docentes e 60% dos discentes acreditam que o gênero não é adequadamente abordado nas disciplinas confirma a ideia de que a formação acadêmica ainda carece de uma consciência crítica sobre o impacto das desigualdades de gênero nas ciências.
Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que 30% dos docentes e 40% dos discentes reconhecem algum tipo de presença do tema, o que indica que há um potencial para a expansão e fortalecimento de práticas inclusivas, mesmo que de forma limitada até o momento. Esse dado sugere que, embora a presença de gênero no currículo seja esparsa, existem sementes de interesse que podem ser cultivadas para futuras mudanças.
A constatação de barreiras, como a falta de formação específica para os docentes e a resistência cultural, é compatível com o que foi apontado por Arora-Jonsson (2011), que argumenta que a integração de gênero em áreas técnicas como as ciências naturais frequentemente encontra resistência devido à falta de formação e à ausência de uma perspectiva crítica sobre as desigualdades de gênero. No contexto da Universidade do Namibe, esses obstáculos são visíveis, com 80% dos docentes indicando não ter recebido qualquer formação em gênero, o que reforça a necessidade urgente de programas de capacitação para superar essas lacunas. Este achado está em consonância com o trabalho de Nascimento (2019), que destaca que a falta de formação específica sobre gênero nas ciências é uma das principais razões pela qual o tema ainda não é abordado de maneira satisfatória no ensino superior.
Por outro lado, os benefícios percebidos com a inclusão de gênero nos processos acadêmicos e profissionais corroboram as conclusões de autores como O’Reilly (2015), que evidenciam que a presença de mulheres nas práticas científicas pode resultar em inovação e melhorias significativas nas soluções ambientais. A valorização da diversidade de perspectivas, observada tanto por docentes quanto discentes, reflete a ideia de que, ao integrar a perspectiva de gênero, é possível enriquecer a abordagem da gestão de recursos marinhos e das práticas pesqueiras, além de melhorar a sustentabilidade a longo prazo. Este achado reforça a noção de que uma maior diversidade de participantes nas decisões científicas e ambientais resulta em soluções mais eficazes e inclusivas.
Os resultados desta pesquisa abrem novas direções para investigações futuras. A falta de uma formação sólida sobre questões de gênero e a ausência de uma abordagem crítica nos programas de Biologia Marinha exigem a realização de estudos que explorem a viabilidade e a eficácia de programas de capacitação voltados para a inclusão de gênero. Investigar como tais programas podem ser implementados com sucesso, considerando o contexto local e as especificidades culturais da região do Namibe, é uma área promissora para futuras pesquisas.
Além disso, um aspecto relevante é a necessidade de avaliar o impacto de uma abordagem inclusiva nas práticas de gestão de recursos marinhos e na eficácia das políticas públicas relacionadas à pesca sustentável. Seria interessante investigar como a inclusão de mulheres, e de outras populações marginalizadas, nas tomadas de decisão pode transformar as políticas públicas e práticas de gestão ambiental. Isso inclui a análise de casos de sucesso em outras regiões costeiras que tenham integrado questões de gênero em suas políticas de gestão de recursos marinhos, como sugerido por Binns e Martins (2020).
Outro caminho de pesquisa importante seria explorar as estratégias que podem ser implementadas para superar as barreiras culturais e estruturais à participação equitativa de mulheres no campo da biologia marinha. Em particular, seria interessante estudar como as universidades podem atuar de maneira mais eficaz na transformação dessas barreiras e criar ambientes acadêmicos mais inclusivos.
Em termos de implicações práticas, os resultados deste estudo sugerem que a inclusão da perspectiva de gênero não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia fundamental para a promoção da sustentabilidade no campo das ciências marinhas. O reconhecimento dos benefícios da diversidade de gênero nas práticas de gestão de recursos marinhos pode ser um ponto de partida para a criação de políticas públicas mais inclusivas e sustentáveis. A integração de gênero, ao envolver mais mulheres na gestão e conservação dos recursos marinhos, pode não apenas ampliar as perspectivas científicas, mas também promover uma maior eficiência e eficácia nas soluções para problemas ambientais.
Essa discussão reforça a importância de uma abordagem transversal que considere o gênero em todas as esferas da formação acadêmica e das políticas públicas. Isso inclui a necessidade de adaptar currículos acadêmicos para abordar explicitamente questões de gênero no campo das ciências naturais, especialmente em áreas como a biologia marinha, que desempenham um papel crucial na segurança alimentar global e no desenvolvimento sustentável das comunidades costeiras.
Em resumo, os resultados dessa pesquisa não apenas confirmam a relevância da perspectiva de gênero para a inovação e sustentabilidade no campo da biologia marinha, como também destacam as barreiras estruturais e culturais que ainda precisam ser superadas para garantir uma educação inclusiva e equitativa. A discussão dos achados sugere que o caminho para uma mudança significativa requer ações concretas tanto na formação acadêmica quanto nas políticas institucionais, criando um ambiente mais receptivo e favorável à participação de todos os gêneros na construção de soluções científicas e ambientais mais eficazes e sustentáveis.
Conclusões
Este estudo buscou compreender como a integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica em Biologia Marinha na Universidade do Namibe pode contribuir para a produção sustentável de alimentos marinhos e a promoção de uma maior equidade de gênero nas práticas acadêmicas e profissionais. Através da análise de dados qualitativos e quantitativos obtidos de docentes e discentes, foi possível identificar tanto os avanços quanto as limitações no processo de incorporação do gênero no currículo acadêmico da instituição.
A pesquisa conclui que, embora existam tentativas iniciais de integrar a perspectiva de gênero na formação acadêmica, sua implementação ainda é insuficiente e encontra obstáculos significativos, como a falta de formação específica dos docentes e a resistência cultural nas práticas pedagógicas. Apenas uma parcela limitada de docentes e discentes percebem a presença de questões de gênero no currículo, indicando uma lacuna considerável em termos de conscientização e práticas inclusivas. A abordagem de gênero nas ciências naturais, especificamente em Biologia Marinha, ainda não é suficientemente abordada, refletindo a realidade de muitas instituições ao redor do mundo, conforme discutido por autores como Arora-Jonsson (2011) e Robbins e O’Neill (2018).
Contudo, os resultados também evidenciam o reconhecimento dos benefícios da inclusão de gênero, com a maioria dos participantes concordando que uma maior diversidade de gênero pode enriquecer as discussões acadêmicas, promover inovação e contribuir para a sustentabilidade da produção marinha. Este achado confirma a importância de uma abordagem mais inclusiva para o fortalecimento de práticas sustentáveis no setor pesqueiro e marinho, conforme proposto por autores como O’Reilly (2015) e Binns e Martins (2020).
Embora os resultados forneçam uma visão valiosa sobre a situação da perspectiva de gênero na formação acadêmica da Universidade do Namibe, existem algumas limitações que devem ser consideradas ao interpretar as conclusões. Em primeiro lugar, o estudo foi conduzido em uma única instituição, o que limita a generalização dos achados para outras universidades ou contextos regionais. Além disso, a amostra de participantes, embora significativa, não abrange todas as disciplinas ou cursos da Faculdade de Ciências Naturais, o que pode restringir a visão geral da integração de gênero no ensino superior.
Outro aspecto a ser considerado é a possível subjetividade nas respostas dos participantes, especialmente no que diz respeito à percepção sobre a presença de gênero no currículo e nas práticas acadêmicas. As respostas podem ter sido influenciadas por fatores como o nível de conscientização pessoal sobre o tema ou a conformidade com expectativas sociais.
As limitações mencionadas não comprometem as conclusões centrais deste estudo, mas é importante interpretá-las com cautela. Os resultados sugerem que, apesar dos desafios, a integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica tem um enorme potencial para promover a igualdade de oportunidades e fortalecer a sustentabilidade das práticas de produção marinha. A implementação de políticas públicas e programas de capacitação focados em gênero pode representar um passo crucial para superar as barreiras identificadas e garantir uma maior equidade na educação e na produção marinha.
Para continuar avançando nesse campo, recomenda-se a realização de estudos em outras instituições acadêmicas, a fim de comparar as práticas de integração de gênero em diferentes contextos. Além disso, investigações adicionais podem explorar estratégias específicas de capacitação para docentes, bem como a criação de currículos acadêmicos que incorporem efetivamente questões de gênero e sustentabilidade de maneira transversal. Finalmente, seria importante explorar os impactos diretos da participação de mulheres e de outros grupos sub-representados na tomada de decisões no setor pesqueiro e marinho, especialmente em relação à gestão sustentável dos recursos naturais.
Em suma, este estudo reafirma a importância da integração da perspectiva de gênero na formação acadêmica em Biologia Marinha, evidenciando seu potencial para promover uma maior equidade e sustentabilidade nas práticas científicas e produtivas, especialmente em regiões costeiras como o Namibe.
Referências
Arora-Jonsson, S. (2011). Gender and climate change: A study of the adaptation strategies and practices of rural women in Sweden. Gender and Development, 19(3), 75-93.
Aslan, A. (2019). Sustainable fisheries and gender: The role of women in fisheries management in coastal communities. Environmental Science and Policy, 88, 45-52.
Binns, P., & Martins, R. (2020). The role of women in marine conservation and sustainable fisheries management. Journal of Environmental Management, 245, 168-176.
Nascimento, A. (2019). Empoderamento feminino e inclusão nas áreas de ciências e tecnologia: O caso das universidades brasileiras. Estudos Feministas, 27(1), 34-47.
O’Reilly, M. (2015). Gender in marine science: Shifting roles and opportunities for women in oceanography and fisheries. Marine Policy, 58, 56-63.
Robbins, M., & O’Neill, M. (2018). Gender equity in academia: The case for more inclusive science education. Feminist Studies, 44(2), 213-227.
Valente, R., Santos, L., & Oliveira, F. (2017). Políticas de gênero no setor pesqueiro: Um estudo comparativo. Revista de Políticas Públicas, 12(2), 116-130.
Conflito de Interesses
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Declaração de Responsabilidade de Autoria
Os autores do manuscrito supracitado DECLARAM que contribuíram diretamente para o seu conteúdo intelectual, bem como para a gênese e análise dos seus dados; portanto, podemos assumir publicamente a responsabilidade por ele e aceitamos que seus nomes apareçam na lista de autores na ordem indicada. Além disso, cumprimos os requisitos éticos da publicação supracitada, tendo consultado a Declaração de Ética e Má Conduta na Publicação.
Jerónimo Evaristo y Onelis Portuondo Savón: Processo de revisão bibliográfica e redação do artigo.